Conhecimento científico e não científico: o senso crítico e o senso comum
- Remo Bastos
- 3 de jun. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de nov. de 2024

"Existe uma profunda distinção entre o conhecimento científico e a opinião manifestada pelas pessoas comuns sobre os diferentes fenômenos sociais.
Qualquer indivíduo pode falar, por exemplo, da criminalidade, mas somente aqueles que empregam métodos científicos estarão aptos a encontrar a origem real do fenômeno. É claro que no conjunto de opiniões emitidas por um grande número de pessoas haverá aquelas que se identificarão com a resposta encontrada pelo cientista. No entanto, somente aquele que emprega o método científico terá certeza de que encontrou a resposta adequada para determinado fenômeno social.
Uma opinião, portanto, pode estar certa, mas é uma certeza espontânea, esporádica, e provavelmente quem a emite não saberá fornecer explicações satisfatórias que a justifiquem. A ciência demonstra os motivos de sua certeza, procura as causas, e suas conclusões poderão ser generalizadas para fenômenos semelhantes.
A ciência pressupõe um conjunto de verdades metódica e sistematicamente organizadas. Como consequência, podemos definir ciência como um conjunto sistematizado de conhecimentos sobre o mundo em que vivemos. Toda e qualquer ciência tem um campo específico, um objeto determinado, e a partir das regularidades observadas na manifestação dos fenômenos, busca compreender a realidade.
O senso comum é como as pessoas, de modo geral, abordam um problema, um fato social, fazendo-o sem nenhuma profundidade, baseando-se na primeira impressão que têm sobre o fenômeno. Surge daí um conjunto de crenças que as pessoas passam a ter em comum, sem ter sido feita nenhuma abordagem sistemática e organizada de verificação da realidade.
Algumas frases costumeiras que indicam manifestações de senso comum são: "as mães sempre estão certas", "todas as mulheres são más motoristas", "todo político é corrupto". São frases que emitem juízos de valor e nas quais muitas pessoas se baseiam, provocando ações que poderão estar incorretas, pois partiram de uma premissa não comprovada.
O senso crítico é desenvolvido pelas pessoas que abordam os problemas de forma metódica e organizada e que não se satisfazem com a primeira impressão que causa determinado fenômeno. Utilizam o método científico para analisar os fatos sociais, que podem ser motivados por fatores absolutamente contrários àqueles que o senso comum induz.
Utilizando-se o senso crítico, pode-se compreender que mães, mulheres de um modo geral e políticos são conjuntos diversos de pessoas que apresentam algo em comum; no entanto, são formados de indivíduos que passaram por diferentes processos de socialização e poderão dar respostas totalmente diferentes perante os mesmos problemas, bem como apresentar comportamentos radicalmente contrários diante das mesmas realidades. Se há traços comuns nos grupos de mães, mulheres e políticos, esses dizem respeito ao meio social em que se desenvolveram, e não a uma característica que é inerente à sua condição. Embora todas as mães do mundo desenvolvam traços comuns de comportamento pelo papel social que desempenham, haverá muitos mais traços discordantes. Da mesma forma, as mulheres e os políticos.
Em resumo, as pessoas que não estão acostumadas com a pesquisa e a utilização de métodos científicos apresentam o "senso comum" como forma de manifestar opiniões, que são baseadas nas aparências e nas primeiras impressões. Os sociólogos desenvolvem o hábito, em seu cotidiano, de buscar a verdade por trás das aparências e para tanto utilizam-se do "senso crítico", que se fundamenta na recusa sistemática de emitir juízos de valor sobre os fatos sociais. [...]" (Reinaldo Dias, em "Introdução à Sociologia")
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